quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Estava Escrito e Golpes de Capoeira!


                                                  Irmãos Azevedo no pandeiro e Berimbau!


ESTAVA ESCRITO....

"Isso é coisa do Destino...
como disse uma cigana"!
ROBERTA MIRANDA (trecho)

"Na Vida tudo acontece,
só Deus tem pena de mim
e eu, que sofri tanto,
porque 'inda sofro assim. (...)
Do jeito que a Terra anda,
o Mundo está indo mal... (...)
tem gente que eu ensinei
que, hoje, quer bater em mim!"
Mestre NATANAEL, SP,
no LP "Raízes de Angola", 1975?



                                         Arte do espetacular Artista Plástico Nelson Guedes!

Afinal, estaria mesmo "escrito" em nosso Destino o fracasso retumbante que foram quase todas as nossas iniciativas dirigindo o CCCP - Centro Cultural de Capoeira do Pará (entre 1988 e 1992/93) ou o suposto regionalismo de boa parte do povo deste Estado conspirou contra nós? O fato é que, de tudo o que se tentou -- tanto em têrmos de ensino da Arte-luta como apenas enquanto divulgação cultural (nas Escolas e nas praças) -- não conseguimos concretizar nem um terço, diria até que nem a quarta parte do projetado.

Essa é uma longa história... esbarramos em tanta má vontade, em tantos locais diferentes, que ficaria dificil (naquela época ou agora, com a volta de novos ventos ufanistas semelhantes aos vividos 20 anos atrás) admitir que tudo se tratou apenas de "mera coincidência".
Não pretendo repisar os fatos, boa parte está narrada no artigo "CCCP - 4 ANOS DE LUTAS E REALIZAÇÕES", -- publicado no megasite cultural OVERMUNDO e também no NETLOG -- e o têrmo REALIZAÇÕES seria licença poética de minha parte, elas quase não existiram.
No depoimento de meu irmão "Sérgio Leiteiro", eis o início de tudo:

                                                               Primeira exposição!

"É estranho recordar como conseguimos formar nosso acervo de coisas da Capoeira com boa parcela de doações de desconhecidos. Cheguei apenas com uma pasta de recortes de jornais e uma razoável quantidade de livros, revistas, discos e fotos. Havia a coluna "Espaço Aberto" no jornal Diário do Pará, de Belém, e meu irmão "Nato" Azevedo levava seus textos para publicação -- graças ao jornalista Cléodon Gondim -- tendo conhecido lá o simpático fotógrafo do mesmo, Carlos Rauda.


 Não deu outra e conseguimos a 1ª reportagem de página inteira sobre o grupo de Capoeira Berimbau de Ouro, com texto de Emily Cardoso e fotos de Carlos Rauda, em 17 de junho de 1987! Conseguiríamos no mesmo jornal mais 3 páginas inteiras, nas datas de 03/07/88, 04/01/90 e 31/05/1991, ainda com fotos de Carlos Rauda em quase todas. Fotógrafo profissional, Rauda enriqueceu nosso acervo fazendo vários trabalhos gratuitamente. Outros fotógrafos também profissionais, vendo nosso amor e esforço em prol da Capoeira. doaram seus trabalhos, entre êles cito Antômio José "Brás" Bahia, Edmilson Sampaio, Edmilson Nascimento, o artista plástico GilvanTavares (que nos doou 2 telas), Mira Jatene, Edinaldo Silva, Rufino Almeida, Luís Otávio (da Folha do Norte), etc (todos de Belém), Rauda e Clodoaldo Silva Ribeiro em Ananindeua, além de Anibal Pillot, no Rio.



Com a criação do CCCP - Centro Cultural de Capoeira do Pará em junho/1988 e sua posterior divulgação para todo o Brasil -- e para o exterior, via Jornal BALCÃO, do Rio de Janeiro, gratuitamente, por sinal -- conseguíamos contato com inúmeras pessoas, sendo as mais relevantes, as seguintes: Mestre Valdenor dos Santos, Mestre Suassuna, Me. César de SP, Me. Itapoan da Bahia, Me. "Macaô" e Me. Alvinho Sucuri de Aracaju, Mestres Gavião e Farol de Porto Alegre, Mestre Burguês no Paraná, Mestra Cigana e André Lacê do Rio e Mestre Osvaldo de Souza de Goiânia.



Como vendedor de jornais descobri que 2 fregueses meus assinavam o Jornal do Brasil (RJ) e o Estadão (SP) e, além de me darem jornais, doavam também revistas. Para nós tornou-se obsessão procurar qualquer coisa sobre Capoeira e nosso acervo foi crescendo rapidamente.
Assim que saiu a reportagem sobre a criação do CCCP, enviamos uma para um jornal da Bahia e recebemos de me. Itapoan 3 importantes livros gratuitamente. Necessário frisar que "Atenilo -- O Relâmpago da Capoeira" e o livro "Bibliografia da Capoeira" são obras de Itapoan obrigatórias em qulquer biblioteca de Capoeira. De São Paulo Me. César nos mandou uma relação de sua espantosa coleção discográfica, soterrando nossa intenção de catalogar tudo o que já existia, depois da lista contida no "Capoeira Angola", de Waldeloir Rego.

                                                          Terceira exposição!

Me. Cigana nos enviou uma quantidade expressiva de material entre vídeos/fitas VHS, fotos e até os originais de seu futuro livro de ginástica para crianças. Foi na casa dela que vi o mais rico material, um livro com desenhos e textos de Aníbal Burlamaqui, de 1928. Por preguiça e falta de dinheiro não copiei aquela fabulosa reportagem. Por coincidência, conheci numa livraria o excelente livro do me. Squisito. Me. Oswaldo de Souza recebeu um pedido nosso para nos enviar seu livro sobre a Capoeira Regional de me. BImba. Mandou-nos gratuitamente!

Do Rio chegou-nos a informação que o jornal O BERIMBAU tinha uma seção: "O Mestre Responde!" Contactamos e, através dele, conhecemos André Lacê, pai da diretora do Jornal. Nossa relação com André Lacé terminou quando quiz nos ligar a um "peste" local.
Impossível não citar o falecido mestre "MACAÔ" (de Recife) e, adiante, o jovem mestre (na época) ALVINHO SUCURI (grupo MOCAMBO), que nos enviavam material gráfico de excepcional qualidade, um avanço nunca visto na Capoeira de 1988/90. Macaô produzia um livreto de poemas/fotos/desenhos de imenso bom-gosto, trazendo lirismo e poesia para as terras áridas da Capoeira em geral.

O professor Falcão de Castanhal, além de ótimo jogador é muito querido e isso me levou a um dos seus concorridos Batizados. Conheci 2 dos seus muitos amigos de renome, o Leão e o Joel que na época já representavam o Grupo Muzenza de Me. Burguês aqui. Tempos depois o falecido Mestre Magrelo fez uma oficina com Mestre Falcão, este lá da Bahia. Fui e encontrei lá o professor Joel, com quem fiz amizade e passei a visitá-lo, em sua academia, na cidade de Santa Isabel, e possivelmente foi êle quem me deu o informativo Muzenza, no qual passamos a colaborar, tendo recebido imensa consideração do Me. Burguês. Abaixo, um pouco de tudo o que tínhamos na época, fora mais de 300 fotos diversas, mais 600 páginas de cópias xerox (de livros de Capoeira raros ou nem lançados ainda) além de duas centenas de páginas de revistas esportivas, de moda e de turismo, que continham fotos ou notas/reportagens sobre Capoeira:


ACERVO DO CCCP-Centro Cultural de Capoeira do Pará:
1] jornais do CCCP, [1988 a 92] -- 63 notas/reportagens
2] GRUPOS DE BELÉM, 1987/2006 -- 405 notas/reportagens
3] OUTROS ESTADOS, 1981/2000 -- 66 notas/report.
4] JORNAIS de Capoeira -- são 29, especificamente com o tema 5] 25 LIVRETOS - de grupos, quase todos de outros Estados
6] mais de CEM POSTERS, decalques, mapas,calendários,
7] 95 CONVITES de outros Estados oficios/folders/decalques, etc 8] 106 CONVITES DE BATIZADOS, dos grupos de Belém, de 1987 a 2009, etc e etc.

Já o famoso mestre Suassuna, meu irmão "Nato" conheceu antes da efetiva criação do CCCP, em junho/1988, tanto que guardamos cópia de uma das cartas dele (de 18/maio 1988) em que cita essas palavras:
"Fiquei muito satisfeito em receber tua correspondência e, através dela, tomar conhecimento do trabalho que vocês vêm realizando aí em Belém. É sempre uma alegria conhecer pessoas cujo trabalho em prol da Capoeira ajuda a preservar e eleva nossa luta e cultura. Acredito que é isso que acontece quando as coisas são feitas com amor!"

Aqui termina a explanação de meu irmão Renato, vulgo "Carioca" no mundo capoeirista local... mas mesmo feito com amor ou dedicação pelo menos, tivemos no Correio nosso mais rijo adversário. Me. Suassuna nos mandou coisas que nunca recebemos. Me. Cigana me cobrava a confirmação -- já em sua primeira carta -- do envio de camisetas e uma fita cassette, que nunca cheguei a ver. Dentro da minha caixa postal, nos primeiros meses de uso, um envelope VAZIO da BN - Biblioteca Nacional, que os funcionários da APT do bairro "alegaram" que eu tinha posto lá para descareditá-los. Reclamei na Diretoria Regional... a agência acabou fechada por três longos dias, a partir de minha denúncia. O que descobriram jamais foi revelado para o público. Mas nosso material de Capoeira continuou não chegando às nossas mãos e o que enviávamos -- até para o exterior (EUA, Canadá e Europa) -- não tinha resposta alguma, mesmo quando havia o famoso AR, um aviso de recebimento que nunca nos era entregue. Desse tenebroso Passado (1988/92) aos dias atuais pouco ou nada mudou... pelo menos quando se trata dos irmãos Azevedo.

Voltando ao CCCP, com um acervo enorme em casa, decidimos em meados de 1989 que era hora de mostrá-lo. Primeiro, em 3 exposições anuais no CENTUR, o principal prédio cultural de Belém do Pará, na época sede da SECULT estadual. As fotos nesse texto dão uma pálida idéia do primarismo da coisa, fundo de papel de embrulho e "restos" de catolina barata, com grandes desenhos improvisados para poder "encher" o enorme espaço que nos fora cedido. A de nov./1989 chamou-se "CAPOEIRA: do inicio aos nossos dias".

Em 1990, já com o expressivo apoio da FOTO GALERIA -- por empenho de seu dono, o sr. Paulo Nogueira -- optamos por realizá-la em julho... Belém ficava às moscas nas férias e achamos que o tema Capoeira atrairia gente sen opção de lazer. E não erramos, a roleta do 3º andar do CENTUR registrou no fim do mês mais de 6 mil acesso. Descontadas as idas e indas de uma mesma pessoa, visitaram nossa modesta exposição "A Capoeira em todas as Artes" pelo menos uns 1.200 jovens.

Em julho de 1991, agora contando com o patrocinio total da FOTO GALERIA, que produziu não só os convites (110 postcards, fotos com terxto anexo) como revelou/ampliou todas as fotos exibidas, 3 canais de TV nos entrevistaram na própria exposição, os principais jornais a registraram em páginas inteiras e a própria SECULT -- na pessoa do então Secretário de Cultura Paulo André Barata -- nos liberou boa parte do material que relacionamos (algumas coisas o funcionário encarregado não teria encontrado no comércio local), além de enviar 92 cartas para artistas plásticos da Capital. Levou o título de "ARTE FINAL: Capoeira", pois era nossa intenção encerrar essa fase. Infelizmente, as obras trazidas para a exposição dependiam da minha presença no local para serem aceitas pelo CENTUR, o que ocasionou a devolução de muitas delas. Mesmo assim tivemos 3 obras de Gilvan Tavares -- que fotografaria a exposição -- além de obras em serigrafia de nosso amigo capoeirista NELSON GUEDES, cuja contribuição artística para a Capoeira de Belém mereceria um estudo (ou ensaio). É dele o logotipo da FEPAC, entre diversos trabalhos de excelente nível.. Perdemos a oportunidade de ter as magníficas aquarelas de uma jovem de 15 anos, de nome Polyanna, que se mudou para Brasilia dias depois.

No meio do ano de 1993, o CENTUR recebeu meio milhar de professores e doutores em Educ. Física, num seminário nacional, com a presença de um Ministro do Esporte, não lembro quem. Recorremos ao organizador, dr. Paulo (?!) Maneschi, que nos autorizou exibir alguns painéis, obra recente nossa, numa proposta de levar a exposição para ruas e Escolas. Idéia infeliz: o CENTUR na época era um "balaio de gatos" onde acontecia de tudo, basta consultar os jornais da época. Começaram por nos negar os painéis para expor os superposters caseiros, restringiram o horáio da exposição e, por fim, retiraram "na marra" -- numa sexta-feira, ao meio-dia -- nossos posters dos míseros 3 painéis nos cedidos, alegando que precisariam deles na segunda-feira seguinte. Nessa "brincadeira", por deixarem nossos posters numa poltrona no corredor principal, perdemos 8 posters com perto de 30 fotos 18x25 cm, várias delas originais, sem negativo nem cópia alguma. Puz o caso na Delegacia próxima, que não mexeu um dedo para averiguar nada.

A partir dai, a "exposição" ganhou as ruas, primeiro na Praça da República, sem autorização legal mesmo -- exposta com sol ou chuva, todos os domingos, entre 1994 e 97 -- pois a PMB permitia carrinhos de bebida na grama da Praça mas nos impedia de fazer pequenos buracos para os canos que sustentavam os painéis. Os "painéis" foram feitos da maneira mais dificil (ou burra) possível, adquirindo tábuas de compensado de 4 mm (que formaram "posters" do tamanho de 1 cartolina) e canos de ferro, que sustentavam a "exposição" nas ruas, colégios e praças, com um peso aproximado de 30 QUILOS, divididos em 4 fardos, levados para todo lado em ônibus comuns, os tais coletivos.

É de se crer que fariamos sucesso nas principais EPs-Escolas Públicas de Belém... mas levamos um enorme susto, o desinteresse pelo assunto CAPOEIRA era tanto que já na primeira ou segunda EP, o famoso "Orlando Bittar", mais de 300 alunos simplesmente ignoraram os painéis, postados no corredor ao lado da cantina. Em outras EPs da área central da Capital a diretoria RECUSAVA a exposição sem sequer ver, nos obrigando a pendurá-la na área externa, fora dos portões. Visitamos as maiores EPs de Belém, "Vilhena Alves" e o "Souza Franco" entre vários outros, só colhendo fracassos de público por todo o ano de 1994. Apenas nos colégios particulares (e caros) como o Cearense e o Anchietinha -- esse também em 1995 -- houve algum interesse, por esforço de professores, que levavam suas Turmas para uma visita monitorada aos painéis. Nas ruas e praças idem, nem em pleno 7 de Setembro na Pça da República conseguimos ter mais do que meia dúzia de interessados e uma tarde inteira no Museu Goeldi ou no Bosque Rodigues Alves terminava do jeito que começava... sem praticamente uma só visita, apenas transeuntes apressados passando sem quase olhar.

                        Em cima: Praça da República. Em baixo: Bosque Rodrigues Alves em Belém-Pará!

Teminamos a "via crucis" no municipio de Marituba (na época, apenas distrito de Ananindeua). disputando a atenção dos alunos com um certo projeto "LUAMIM", cujo autor recebera da SECULT uns 90 MILHÕES de cruzeiros da época -- seriam uns 15 mil reais hoje -- para retirar meninos "abandonados" das ruas de Belém e dar-lhes noções de arte e artesanato com barro, mas cujo resultado mal se via na suposta Exposição. O projeto resistiu ao tempo e ainda existe, agora como uma espécie de "caridade com escritório e Diretoria", parafraseando uma crônica mordaz de Eça de Queiroz, escrita em 1853 e atualíssima 157 anos depois.

Aqui em Ananindeua, mais precisamente no bairro Cidade Nova, onde moramos desde agosto de 1986, encontramos além de desinteresse pela Capoeira nas EPs, um combate feroz contra ela, com o argumento de ser "folclore baiano" ou de "coisa de quem não tem o que fazer", no dizer do Prefeito evangélico a quem tive de recorrer por diversas vezes, porque os tais "comunitários" -- que o Pará tem aos milhares -- além de não colocarem nos prédios um reles jogo de dama, de dominó ou de pingpong, tentavam impedir as aulas de Capoeira em "seus" estabelecimentos ou, pior, permitiam para logo em seguida alijar professor e alunos do local (todos êles moradores da área) sob qualquer pretexto. ESTAVA ESCRITO que a gente fracassaria... ou será que é só impressão minha?!
"NATO" AZEVEDO
(ANANINDEUA, Pará, BRASIL)

PS: Atualisando para 2010, o jovem Luis Carlos trouxe alguns anos atras Mestre King Kong do RJ, Mestre Napa de São Paulo e Mestre Claudio (do Angoleiros do Sertão)da Bahia para uma Oficina. A palestra gratuita contou na platéia de menos de 30 pessoas, apenas com um nome de peso da Arte Capoeira local. Ano passado (2009) novamente o jovem Luis Carlos arrebenta, trazendo Mestre Toni Vargas e Mestre Cobra Mansa. Na palestra gratuita para platéia com menos de 30 pessoas nenhum nome de peso da Arte Capoeira local, embora a recente Associação de Mestres tenha catalogado (no Estado?)72 M......!
E eu choro?
Leiteiro


OBSERVAÇÕES FINAIS
É necessário ressaltar que o acervo do CCCP seria inexpressivo sem a contribuição de Fátima Colombiano (me. "Cigana"), principalmente em têrmos de video. Entre 1998 e 95/96 "Cigana" nos enviou perto de 150 correspondências (hoje no arquivo de F. Rabelo), mantendo-nos informados sobre a Capoeira no eixo Rio/SP/Bahia, o progresso promovido nela pela ação/atuação da FPC-Fed. Paulista de Capoeira -- cuja existência mereceria um livro inteiro, a partir do dinamismo de seus fundadores/diretores -- e dezenas de páginas dedicadas aos aspectos técnico e de ensino.



Após o melancólico fim do CCCP, em junho/1992, em praça pública e com a presença de TRÊS PESSOAS apenas, coube a Antonio Carlos de Menezes (me. "Burguês") retomar o caminho de Cigana, nos enviando fotos e revistas, me abrindo espaços enquanto escritor (e crítico) das coisas de nossa Arte-Luta e ampliando nossa atuação como divulgadores persistentes da Capoeira, sem adjetivos nem regionalismos.
"Que fim levou esse nosso acervo!", se perguntarão alguns leitores atentos. Num azíago dia do mês de desgostos -- ano da (des)graça de 2009 -- tudo VIROU CINZAS... e o que não foi rasgado ou queimado foi vendido como papel velho, a 8 centavos por quilo, em meio aos 1.300 quilos de livros e revistas diversos ou nos 850 quilos da "carrada" anterior.



Perdeu-se apenas nossa história pessoal, mais de 600 poemas meus inéditos e perto de CEM MÚSICAS, além de negativos raros, postais de Capoeira antigos, dos anos 1950/60, selos, moedas, perto de 30 fitas-cassette com depoimentos e gravações raríssimas, etc e etc. Tentamos em vão vender esse acervo para os órgãos públicos do Pará, os maiores da área na Cultura e no Esporte, além das 2 universidades oficiais, ambas com somente 2 ou 3 volumes sobre Capoeira em suas bibliotecas. Tempo e esforço perdidos... a maioria sequer respondeu ao meu ofício e, procurados, davam as desculpas mais esfarrapadas para negarem a aquisição.



Os 1.500 reais pedidos eram demais (baixei para mil reais, com 425 reportagens só da Capoeira local, de 1981 até 2004), xeroxs de livros (raros) eram proibidas por lei, as fitas-cassette estavam mal gravadas, as 20 fitas VHS de video com momentos que jamais se repetiram "estariam com mofo", as coleções de revistas e jornais específicos "estavam incompletas" e, por fim, quem decidia a compra era o "mestre" de Capoeira "Fulano" -- que nos destestava... e nós a êle! -- ou a doutora "Beltrana", totalmente desinteressada do material para "seu" acervo ou que 1) ficara doente, 2) o pai dela adoecera, 3) ela entrara de férias e 4) era um jovem "capoeirista" universitário quem iria dar a palavra final. Nunca deu! Oito memses (de 2004!) se passaram, com gastos em telefonemas e visitas, até que desistimos e o Museu da UFPA perdeu a chance única de ter nosso acervo.



O capoeirista de Belém (quase diria eu, e também do Pará) não lamentou coisa alguma... não compra fotos nem de seu Batizado ou graduamentos, não lê revistas ou jornais sobre o assunto, não tem o menor interesse em discos, fitas-cassette ou CDs de Capoeira e talvez este seja o ÚNICO ESTADO do país onde nenhum disco ou CD foi gravado até hoje, apesar de um certo grupo "da Doca" já em 1996 vender calendários (horrorosos, por sinal) para arrecadar fundos que seriam investidos no primeiro CD do Pará. Pouco depois, (março ou maio/1997) outro gaiato -- com titulo de mestre -- promoveria durante 2 dias um festival de músicas (que nem terminou!) cujo vencedor gravaria um disco.
"NATO" AZEVEDO



Golpes de Capoeira
A Capoeira é uma expressão cultural brasileira que mistura arte-marcial, esporte, cultura popular e música.
Desenvolvida no Brasil principalmente por descendentes de escravos africanos com alguma influência indígena, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas.
Uma característica que distingue a Capoeira da maioria das outras artes marciais é a sua musicalidade. Praticantes desta arte marcial brasileiraaprendem não apenas a lutar e a jogar, mas também a tocar os instrumentos típicos e a cantar. Um capoeirista experiente que ignora a musicalidade é considerado incompleto.
A palavra capoeira é originária do tupi-guarani, refere-se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil. Foi sugerido que a capoeira tenha obtido o nome a partir dos locais que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas fugitivos da escravidão e desconhecedores do ambiente ao seu redor, frequentemente usavam a vegetação rasteira para se esconderem da perseguição dos capitães-do-mato.

Golpes de Capoeira
Se prepara que a lista é longa, lá vai:
§Armada ou meia lua de Costas: 
a armada aplica-se estando em pé. Através de um movimento de rotação, um pé fica firme ao chão enquanto o outro sobe varrendo a horizontal atingindo o adversário com a parte externa do pé.
§  Arpão
golpe no qual derruba o adversário como uma arpa.
§  golpe aplicado com a mão fechada (soco) contra o nariz e/ou boca do oponente.
§  Chapa ou chapa de chão
coice aplicado com uma das pernas estando em posição de rolê (com as duas mãos e pés ao chão, com o corpo virado para o chão e as costas para cima).
§  Chibata
estando na posição de início ou término do aú, o aplicante bate com o pé que está no alto batendo com o peito do pé e girando para voltar à base de ginga.
§  Corta Eucalipto
golpe caracterizado pela neocapoeira como o mais potente. Aproxima-se do oponente, vira-se tronco e braços e salta. Quando está no ar, contrai-se as pernas como uma tesoura a ser usada na perna ou na cabeça do adversário.
§  Cotovelada:
golpe com o cotovelo em qualquer parte do corpo do adversário.
§  Escorão, pisão, chapa, ou chapa de frente:
aplica-se em pé distendendo a perna de trás em movimento de coice acertando o adversário com a planta do pé. Este golpe pode visar empurrar (derrubando) o adversário o traumatizá-lo.
§  Esporão, chapa rodada ou chapa de costas:  
aplica-se o escorão, porém a perna de trás passa por trás do aplicante em um movimento de giro semelhante à armada.
§  Forquilha
é a ação de introduzir um ou mais dedos nos olhos do adversário.
§  Escala de mão:
golpe semelhante ao soco. Aplica-se com a mão aberta e os dedos encolhidos utilizando a base da mão. Estando a palma da mão voltada para o adversário. Normalmente é aplicado contra a face do adversário.
§  Galopante
aplica-se uma mão em forma de concha contra o ouvido do adversário.
§  Gancho
estando em pé, a perna de trás sobe junto com um giro do tronco invertendo o lado do golpe fazendo com que o chute seja dado com o calcanhar ou a planta do pé no rosto do adversário
§  Martelo:
estando em pé, a perna de trás sobe lateralmente, flexionada depois estende-se para atingir o adversário. Também pode ser aplicado com uma mão apoiando-se no chão, onde a mão que vai ao chão é a oposta à perna que aplica o golpe.
§  Meia-lua de compasso
também conhecida por rabo-de-arraia, sendo a meia-lua de compasso uma variação do golpe rabo-de-arraia que vem da capoeira de Angola. Ficando de lado, agacha-se sobre a perna da frente, estendendo a perna de trás. Faz-se um movimento de rotação varrendo a horizontal com a perna de trás esticada, apoiando-se na perna da frente, terminando em posição de ginga. O corpo do aplicante fica rente à perna da frente sobre a qual ele está agachado. O aplicante pode colocar as duas mãos ao chão para aumentar a sua segurança, ou apenas uma ou nenhuma mão.
§  Meia-lua de frente
estando com as pernas lado a lado, lança-se uma das mesmas estica varrendo a horizontal em um movimento de rotação fazendo a trajetória de uma meia-lua. Acerta-se o adversário com a parte interna do pé.
§  Ponteira
golpe que atinge o adversário com a perna de trás utilizando a parte debaixo dos dedos, na planta do pé, semelhante ao bicão/bicuda do futebol. Normalmente, mira-se a região abdominal do adversário.
§  Queixada ou queixada de costas:
aplica-se em pé, estando em base de uma perna e estendendo a outra contra o oponente em forma de giro, de dentro para fora. A parte que atinge o adversário é a parte lateral externa do pé.
§  Rabo-de-arraia
 golpe semelhante à meia-lua de compasso, porém no estilo da capoeira de Angola. Tecnicamente são o mesmo golpe, sendo um, uma variação do outro.
§  Rabo-de-arraia (2)
 salto mortal para frente, onde um ou os dois pés visam atingir o adversário com o(s) calcanhar(es). Também podem ser aplicado apoiando as mãos no chão.
§  Vôo do morcego ou voadora:
dá um salto e estende-se uma ou as duas pernas visando atingir o adversário. Este golpe também é popularmente conhecido como "voadora".
§  Abertura
 também conhecido como escala de pé. O aplicante coloca suas duas pernas entre as pernas do adversário e abre-as e puxa-as forçando a abertura excessiva das pernas do adversário desequilibrando-o.
§  Arrastão da negativa
estando em posição de negativa, coloca-se a perna estendida atrás de uma das pernas do adversário e aplica-se um puxão, visando derrubá-lo.
§  Banda ou pé-de-rodo
estando em pé, aplica-se uma rasteira com a perna semi-flexionada. Também conhecida popularmente como "pé-de-rodo".
§  Banda de costas
 também conhecida como banda trançada. Estando em pé, coloca-se uma das pernas atrás de uma das pernas do adversário, então puxa a perna podendo empurrar o adversário para frente com o corpo ou braço.
§  Bênção
estando em base de ginga, atinge-se o adversário com perna de trás, usando a planta dos pés. Assim, o aplicante empurra o adversário.
§  Boca de calça
puxam-se as duas pernas do adversário com as mãos, podendo ajudar com uma cabeçada.
§  Cabeçada
 ato de empurrar o adversário com a cabeça. Também pode ser usado como golpe traumatizante, acertando com força o abdômen ou outra parte do corpo do adversário.
§  Crucifixo
ao receber um golpe de perna alta, o aplicante aproxima-se do adversário, colocando a perna do adversário sobre seu ombro. Assim, o aplicante levanta ainda mais a perna do adversário desequilibrando-o. Normalmente aplicado contra golpes giratórios altos como a armada ou contra o martelo.
§  Gancho
puxa a perna do adversário, por trás, usando a própria perna em forma de gancho. O aplicante pode estar em pé, ou apoiado em uma das mãos.
§  Rasteira de mão
 puxa-se a perna de apoio do adversário quando este está aplicando um golpe (normalmente, golpe de giro alto) usando as mãos. Golpe utilizado em raríssimas oportunidades.
§  Rasteira
 passa a perna rente ao chão em um movimento circular ou semicircular puxando a perna do adversário desequilibrando-o. Pode ser aplicada estando em pé ou abaixado.
§  Tesoura
envolve o adversário com as pernas e depois gira o corpo para desequilibrá-lo. A mesma pode ser aplicada no chão por trás ou pela frente. Também pode ser aplicada no alto, salta-se antes de aplicar a mesma, que também pode ser pela frente ou por trás.
§  Tombo da ladeira
golpe que visa derrubar o adversário quando ele aplica um golpe com salto ou faz acrobacias. Pode ser através de um escorão, puxão no pé, entre outros.
§  Vingativa
aproxima-se rapidamente do adversário (normalmente logo após um golpe), coloca-se lado a lado com ele e com uma das pernas atrás servindo de apoio e aplica-se um empurrão com o cotovelo, costas, ou cabeça para trás. A perna que fica por trás do adversário é a que estiver lado a lado com a perna do oponente.



AÚ AGULHA; AÚ AMAZONAS; AÚ BANDEIRA; AÚ BATIDO; AÚ CAMALEÃO; AÚ CHAPA DE FRENTE; AÚ CHAPA DE COSTAS; AÚ LATERAL; AÚ CHIBATA COM UMA PERNA; AÚ CHIBATA COM DUAS PERNAS; AÚ COICE; AÚ COM UMA DAS MÃOS; AÚ CORTADO; AÚ DE COLUNAS; AÚ DE ROLÊ; AÚ DUBLÊ; AÚ FININHO; AÚ GIRO COMPLETO; AÚ MARTELO; AÚ MORCEGO; AÚ MORTAL; AÚ PALITO; AÚ PARAFUSO; AÚ PICADO; AÚ PICO; AÚ PIRULITO; AÚ QUEBRADO; AÚ SANTO AMARO; AÚ SEM MÃOS; AÚ TESOURA; AÚ VIRGULINO.




Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: 
Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo.
 
 
 Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: 
Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatar-se, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas.
 

3°- Legado de Coelho Neto - 1928: 
Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. 



Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: 
Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada e Suicídio.

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Sabedoria é isso aí!
A MELHOR FRASE QUE JÁ LI AQUI NO FACE!!
"A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao tamanho anterior."
-Platão- Filósofo grego