terça-feira, 30 de novembro de 2010

Raizes de Angola de Mestre Natanael e Besouro Mangangá!




Raízes da Angola

"Mãe Capoeira,
tu que vieste da África
no sangue do teu filho negro...
Mãe Capoeira,
tu que fez de mim teu escravo...
Mãe Capoeira,
tu que fez muitos deuses:
Ganga Zumba, Zumbi...
que por necessidade de liberdade
construiu e morreu no Quilombo.
Mãe Capoeira...
sei que muitos doutores te respeitam,
porque estiveram na casa branca (*1) contigo.


Mãe Capoeira...
tu que nos deu o berimbau
como teu filho mestre
para ter base no canto e na luta.
Mãe Capoeira...
não sei se na África
ou no Quilombo dos Palmares,
mas há aqui um povo
que se sente honrado
em ser brasileiro.
Mãe Capoeira...
não sei se parto ou se fico.
Muitos partiram,
mas deixaram seu nome gravado
na História da Capoeira !"

Mestre Natanael (declamação)

(*1) o mestre quiz dizer "casa grande"


Bebeto Monsueto e Lua Rasta na Feira de São Cristovão em 1979!
Foto cortesia de Anibal Philot

Raízes da Angola(música/ladainha)

Na Vida tudo acontece...
só Deus tem pena de mim
porque ontem eu sofri tanto
e, hoje, ainda sofro assim.
Se tu tem problema em casa
não vem resolver aqui.

Não é isso o que o povo gosta,
nem também o que eu queria...
prenderam mestre Limão
na porta da Academia.
Maltrataram o "nêgo véio",
algemaram, "desceram o pau".
Não sei se é incompetência
ou erro de um policial.
Do jeito que a Terra anda,
o Mundo está indo mal !

Meu filho hoje tem dez anos...
contigo quer me ver lutar,
pois nunca me viu vencedor
nem tampouco derrotado.
Tem mestre que eu não conheço,
gostaria de conhecer.
No jogo da Capoeira
eu quero lutar com voce.

Capoeira era uma dança,
com ela houve disputa...
com o transcorrer do Tempo
ela transformou-se em luta.
A luta que hoje eu vivo
é um inferno sem fim...
tem gente que eu ensinei
que, hoje, quer bater em mim.

Capoeira mudou muito
e hoje tem o seu valor.
É o tempo que te faz mestre,
não diploma de doutor.
Me mostra o que tu aprendeu...
me mostra o que tu ensinou:
é o jogo de dentro e de fora,
regional ou angola,
samango, cavalaria,
chamada, São Bento ou aviso...
jogue tudo, se preciso,
você é minha alegria !
Mestre Natanael

(OBS.: LP "Capoeira de Angola", de
Mestre Natanael, gravadora  CÁRITAS,
2ª edição, 1994/SP, nº 22.518)



Besouro: 
Extranhamente Besouro viveu na Capoeira na mesma época de Bimba, Pastinha, Valdemar, Noronha, Maré e muitos outros e acho muito extranho que somente Besouro tenha tido tantas histórias ou estórias envolvendo seu nome. Na minha opinião algum escritor se engambelou pela figura de Besouro e danou a inventar boa parte delas!
Leiteiro



Besouro Mangangá!


Outro dia numa roda/
um moleque me chamou pra jogar/
Eu fiquei desconfiado/
pois não pude deixar de arreparar/
Oque estava escrito na camisa/
era um tal de Besouro Mangangá!

Manoel Henrique Pereira (1895 ou 1900 — 1924), mais conhecido como Besouro Mangangá foi um capoeirista que no início do século XX tornou-se o maior símbolo da capoeira baiana. Sua fama chegou ao nível nacional a partir dos anos 1930 e, com a expansão da capoeira para outros continentes, internacionalizou-se [1].


História
Besouro Mangangá era filho de Maria José e João Matos Pereira, nascido em 1895 segundo o documento relativo à sua expulsão ou em 1900 para o documento relativo à sua morte[2], era natural do recôncavo baiano e viveu naquela região em um período que suas principais cidades: Santo Amaro, São Félix e Cachoeira tinham importante papel no cenário produtivo como polos de intermediação das mercadorias que iam e chegavam do sertão baiano[3].

Manoel Henrique que, desde cedo, aprendeu os segredos da capoeira com o Mestre Alípio foi batizado como Besouro Magangá por causa da crença de muitos que diziam que quando ele entrava em alguma embrulhada e o número de inimigos era grande demais, sendo impossível vencê-los, então ele se transformava em besouro e saía voando[4][5]. Várias lendas surgiram em torno de Besouro para justificar de seus feitos, a principal atribui-lhe o “corpo fechado” e que balas e punhais não podiam feri-lo. Devido aos seus supostos poderes Besouro Mangangá tornou-se um personagem mitológico para os praticantes da capoeira, tendo sua identidade relacionada aos valentões, capadócios, bambas e malandros.



Especula-se que não gostava da polícia e que teria praticado de vários confrontos com as força policiais, às vezes levando vantagem nos embates, porém, segundo Antonio Liberac Cardoso Simões Pires[6]: “Suas práticas não podem ser associadas ao banditismo, pois Besouro sempre se caracterizou como um trabalhador por toda sua vida, nunca sendo preso por roubo, furto ou atividade criminal comum. Suas prisões foram relacionadas às ações contra a polícia, principalmente no período em que esteve no exército”. Algumas documentações históricas registram os confrontos entre Besouro Mangangá e a polícia, como o ocorrido em 1918, no qual Besouro teria se dirigido a uma delegacia policial no bairro de São Caetano, em Salvador, para recuperar um berimbau que pertencia ao seu grupo. Com a recusa do agente em devolver o objeto apreendido, Besouro partiu para o ataque com ajuda de alguns companheiros. Eles não coseguiram recuperar o berimbau desejado, pois foram vencidos pelos policiais, ao quais receberam ajuda de um grupo de moradores locais[7]

Aos dez dias de setembro de mil novecentos e dezoito, nesta capital do estado da Bahia (...) Argeu Cláudio de Souza, com vinte e três anos de idade, solteiro, natural deste estado, praça do primeiro batalhão da brigada policial (...) foi interrogado pelo doutor delegado que lhe perguntou o seguinte:
como foi feita a agressão de que foi vítima no posto policial de São Caetano? (...)
Ali apareceu um indivíduo mal trajado,  e encostando-se a janela central do referido posto, durante uns cinco minutos, em atitude de quem observava alguma coisa, que decorrido este tempo, o dito indivíduo interpelando o respondente, pediu-lhe um berimbau que se achava exposto juntamente com armas apreendidas...[8].


Estilo de Luta
A capoeira praticada no recôncavo baiano no final do século XIX e início do século XX apresentava aspectos próprios, tinha em seus traços lúdicos a inserção de instrumentos de cordas - possivelmente houve a mescla entre a prática do samba e da capoeira - e nos treinamentos de luta envolvia técnicas em torno do uso de armas como a faca e a navalha; o chapéu era um importante elemento na defesa das investidas de mão armada[9]. Os praticantes de capoeira desse período desenvolveram uma técnica de ataque com faca e navalha que consistia no fato do lutador amarrar sua arma e um elástico e treinar o ato de lançar a arma, ferir o adversário e retornar a mão novamente[10].




Morte de Besouro
As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente na capoeira conta que um fazendeiro, conhecido por Dr. Zeca, após seu filho Memeu ter apanhado de Besouro, armou uma cilada. O fazendeiro tinha um amigo que era administrador da Usina de Maracangalha, de nome Baltazar. Besouro não sabia ler, então mandaram uma carta para Baltazar, pelo próprio Besouro, pedindo ao administrador que desse fim dele por lá mesmo. Baltazar recebeu a carta, leu, e disse a Besouro que aguardasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite por lá; no outro dia foi buscar a resposta. Quando chegou na porta foi cercado por uns 40 homens, que o iam matar. As balas nada lhe fizeram; um homem o feriu a traição com uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de matar um homem de corpo fechado[11][12].

O atestado de óbito relata da seguinte forma:
Manoel Henrique, mulato escuro, solteiro, 24 anos, natural de Urupy,
residente na Usina Maracangalha, profissão vaqueiro, entrou no dia 8
de julho de 1924 às 10 e meia horas do dia, falecendo às sete horas da noite,
de um ferimento perfuro-inciso do abdômen [13].


A outra Morte de Besouro
Esse relato aproxima-se ao do mestre João Pequeno, com a diferença de que o discípulo de Pastinha concentra mais sua versão em torno da mandinga quebrada quando Besouro manteve relação sexual no período que deveria obrigações aos orixás. João Pequeno assinala que seu pai era primo de Besouro. Todavia insiste na idéia de que o corpo fechado pode ser quebrado quando esse corpo se encontra sujo pela sexualidade. Pessoa de corpo sujo são as que têm relações sexuais, eles estão despreparados e com o corpo aberto a qualquer luta, e foi aí que aproveitaram do finado Besouro (PEQUENO, 2000: 17).
O Mestre insiste na versão do corpo sujo proporcionado pela impureza da atividade sexual. Relata o acontecimento que antecede a morte de Besouro:
Ele dormiu na casa de uma mulher no outro dia quando ele vinha para a casa passando debaixo de uma cerca de arame, o arame arranhou nas costas dele e ele chamando disse: “estou mal, se qualquer pessoa me atacar hoje estou perdido”. E foi nesse dia que furaram ele em uma briga, que durou o dia inteiro. Então, o capoeirista que usa essas rezas não pode ter relações sexuais senão perde o efeito (PEQUENO, 2000: 17).
Mestre Dimas relata o fato a partir de histórias que ouviu e de pesquisa realizada por ele na região. Garante que Besouro estava bebendo em uma venda, não sabe exatamente onde. Tinha acabado de retornar de alguma festa ou da casa de alguma mulher. Isso mantém a versão do corpo aberto pela sexualidade. Nas palavras do Mestre, ele era justiceiro e os senhores de engenho não gostavam dele. Um misto trafega entre um campo político e outro que se expressa na religiosidade e nas obrigações com os santos protetores.
Ninguém podia disputar na mão com ele – quem era doido de sair na mão com Besouro ou na faca. Não tinha jeito. E ele vinha de uma tradição de jogar com a navalha do pé. Ele tinha a sina dele – a mandinga – que não poderia ter relações sexuais em determinados dias. Tinha o dia certo.
Foi então que apareceu no local um garoto que estava contratado para atacar Besouro. Essa mesma versão aparece no discurso do Mestre Macaco. 
Alguém deu a faca de Ticum. O garoto estava preparado para mata-lo. Brincou com o garoto que, inesperadamente, sacou da faca e furou Besouro. Cortado caiu, gofando, bebendo o próprio sangue. O ticum além de cortar, solta uma tinta que infecciona. O Garoto furou e logo fugiu. Ele que estava com o corpo aberto, tinha acabado de ter relações sexuais com a tal mulher.
Mestre Dimas argumenta que Besouro foi levado para o hospital. Entretanto, embora fosse um negro muito forte, não resistiu à distância e à falta de socorro da Santa Casa de Misericórdia. 
Da Usina de Maracangalha até Santo Amaro é muito longe. Ele ainda resistiu. Entretanto sua fama era muito grande, os proprietários automaticamente foram ao hospital e dificultaram ou impediram o socorro. Se fosse prestado socorro de forma adequado – ele era muito forte – teria escapado. Foi perdendo muito sangue e veio a falecer.
Mestre Atenilo, em entrevista concedida ao Mestre Itapoã (Raimundo César Alves de Almeida ), ilustra a possibilidade de criação. Nesse relato já transmitido por outros capoeiristas, Besouro morreu em Cumbaca. Morreu com uma facada. Todas as versões são categóricas em afirmar que foi facada. Nesse aspecto, encontro unanimidade, o que se encaixa perfeitamente com o documento expedido pela Santa Casa de Misericórdia. Entretanto, no relato organizado por ALVES (1988: 48), o entrevistado – Atenilo – diz que Besouro, mesmo furado, não morria. Ele era um além-humano. Não poderia morrer de qualquer jeito. Uma morte simples não seria tolerada. Caberá ao mito – no mínimo – uma morte espetacular.  
Ele não morria, porque ele depois de furado, dizem, ele meteu a mão na faca e cortou os intestinos, ele cortando e comia. E ele vivo, até quando levaram ele pró hospitá, quando chegou no hospitá o médico disse: se ele não tivesse cortado os intestinos...
Mestre Itapoã pergunta novamente, como se quisesse se certificar do que acabara de ouvir: Ele comeu os intestinos, que história é essa?- Mestre Atenilo responde: Ele cortava rapaz, era maluco, cortava um pedaço e botava na boca. Quando chegou no hospitá não tinha mais ar, o ar já tinha saído e ele morreu (...)Até ele não queria escapar.
Sr. Danilo do Acupe, 67 anos, assegurou, em entrevista concedida em 16.06.2002, que Besouro tinha o corpo fechado. Mas o afilhado dele encontrou o ponto fraco. Pegou o Mestre no dia fraco; no dia em que ele estava desprotegido pela atividade sexual. Não tem mandingueiro que resista. Além disso, Cordão de Ouro foi furado com uma faca de ticum, que é a árvore dos mistérios.
Dia de sexta-feira o homem não pode ter relação com mulher. Besouro caiu porque o afilhado o ajeitou, pegou o dia fraco dele e ajeitou ele com uma faca de que? De Ticun. Não tem mandingueiro que resita. Só basta bicar, só basta tocar. Aquele que tem um espinho, que dá aquela frutinha.
Mesmo tendo passado a noite com uma mulher não haveria problema. Sr. Danilo é categórico em afirmar que só pela mulher Besouro não seria derrubado. Besouro é vítima da inocência. A potência transmudada em maldade. Besouro morre no da 8 de julho de 1924. De acordo com o calendário de 1924, o dia 8 de julho é uma terça-feira, que segundo VERGER (1997) é dia dedicado a ogum. Coincidência ou não a possibilidade de articulação entre sexualidade, mandinga, corpo fechado preenchem de possibilidades a linguagem poética.

Outra versão dentre tantas apresentadas sobre a morte de Besouro corrobora esta descrita pelo mestre Burguês. REGO (1968:265) descreve um possível desentendimento entre Besouro e Dr. Zeca (Jeca) e, ao mesmo tempo, amplia com a inclusão do filho Memeu, que entrou em desentendimento com Besouro. 
Mandaram então uma carta para Baltazar, pelo próprio Bezouro, pedindo ao administrador que desse fim do Besouro por lá mesmo. Baltazar recebeu a carta, leu, e disse a Besouro que aguardasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite na casa de uma mulher da vida; no outro dia foi buscar a resposta. Quando chegou na porta foi cercado por uns 40 homens, que o iam matar. As balas nada fizeram; um homem o feriu à traição, com uma faca. Foi como o cosseguiram matar.
A linguagem poética de VIEIRA (2001:13) sobre a morte de Besouro refere-se ao castigo aplicado ao filho do dono da usina. Besouro teria feito o jovem Memeu – filho do patrão - montar em um burro brabo, como forma de punição e justiçamento aplicados por Besouro. Isso foi motivo suficiente para o patrão mandar executar Besouro Cordão de Ouro. 
E o rapaz que não tinha
traquejo com montaria
Mal montou e foi pro chão
era assim que acontecia
No burro, mal se montava
Ela todo se encolhia
Burro de primeiro salto
Derrubava e não saía. 
O rapaz adoeceu
Seu pai ficou irritado
Não atirou em Besouro
pois tinha o corpo fechado
então tramou sua morte
Com jagunço contratado
não demorou, o serviço
Foi logo executado 
 (VIEIRA 2001:13-14)
Foi o menino – afilhado – que estava com maldade com ele. O que contam é que Besouro foi traído pelo afilhado. Isso ocorreu na toga do saveiro. O menino ficou esperando. Quando ele voou já era tarde. O punhal já tinha cravado nele. Caiu no próprio barco. Quando o cara botou nele, já estava preparado. Ali tem um veneno. O ticum solta um veneno. Quando botou nele acabou o homem
A irmã de Besouro– Dona Dormelina Pereira dos Anjos, Dona Adó, em entrevista gravada em Santo Amaro no dia 18.06.2002, garantiu que Besouro estava dormindo. Não entrou em detalhes sobre os motivos de sua morte. Provavelmente por causa de uma mulher. Ele estava dormindo. Mataram ele dormindo. Ninguém sabe quem matou. Morreu em Maracangalha. Contestou a possibilidade de Besouro estar em alguma festa ou bodega.  Foi uma morte construída pela força da traição.  Para AMADO (1973, p. 127): cortaram  seu corpo todo. Foi preciso catar os pedaços para o enterro.  
Mas, como poderia ser cortado à faca o ilustre filho de Ogun?

Besouro é Manoel Henrique Pereira - vaqueiro, mulato escuro, natural de Urupy, residente na usina de Maracangalha; dava entrada na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro da Purificação – Bahia, como um ferimento perfuro-inciso do abdômen. Veio a falecer no dia 8 de julho de 1924 às 7 horas da noite, conforme registro na folha 42v. do livro n° 3, linha 16, leito 418, de entrada e saída de doentes. O referido documento consta nos autos do processo (PEREIRA 1920 –1927: 21) movido por Caetano José Diogo contra Manoel Henrique.


BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Raimundo César Alves. (Mestre Itapoã).. Mestre Atenilo. O “Relâmpago” da capoeira regional. Salvador: UFBA, 1988. 61p.
AMADO, Jorge. Mar morto. São Paulo: Martins, 1973.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo : Companhia das Letras, 1990. 142p.
PEQUENO, João. Uma vida de capoeira. Salvador: [ s.e.], 2000. 48p.
PEREIRA, Caetano Cícero. Certidão de óbito. Cartório de Registros Civis de Pessoas Naturais. Comarca de Santo Amaro – Bahia. (2ª via, junho de 2002).
PEREIRA, Manoel Henrique. Seção Judiciária. Arquivo Público Estadual da Bahia. Classificação – 202; Cx 14; doc 18 – Período 1918.
PEREIRA, Manoel Henrique. Seção Judiciária. Arquivo Público Municipal da Santo Amaro.; Subsérie: Tentativa de homicídio; Cx.04; N° 104; Vol. 18. Data limite (1920 –1927)
REGO, Waldeloir. Capoeira angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapoã, 1968. 417p
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE SANTO AMARO. Edição  comemorativa do bi-centenário. Bahia, 1978. 122p.
VERGER, Pierre. Orixás –  Deuses Iorubás na África e no novo mundo. Salvador: Currupio, 1997. 295p.
VIEIRA, Antônio. O encontro de besouro com o valentão doze homens. Santo Amaro: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Cidade de Santo Amaro da Purificação, 2001. 17p. (Literatura de Cordel).
VIEIRA, Luis Renato. O jogo de capoeira: cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. 

Fonte:

MANOEL HENRIQUE PERIERA, VULGO BESOURO MANGANGÁ E O DISCURSO POÉTICO DA MORTE   

José Gerardo Vasconcelos[1]

http://gerardovasconcelos.blogspot.com.br/2010/08/manoel-henrique-periera-vulgo-besouro.html

 

Cadê o Besouro
Canção muito conhecida na capoeira:

Besouro Mangangá era homem de corpo fechado
Bala não matava e navalha não lhe feria
Sentado ao pé da cruz enquanto a polícia o seguia
Desapareceu enquanto o tenente dizia

Cadê o Besouro Cadê o Besouro
Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro

Besouro era um homem que admirava a valentia
Não aceitava a covardia maldade não admitia
Com a traição quebrou-se a feitiçaria
Mas a reza forte só Besouro quem sabia

Atrás de Besouro, O tenente mandou a cavalaria
No estado da Bahia E Besouro não sabia
á de corpo aberto, Fez sua feitiçaria
Cada golpe de Besouro Era um homem que caía



Hoje, Besouro é conhecido como Cordão de Ouro, o exu das sete encruzilhadas. Está presente nos terreiros de Umbanda, onde incorpora em médiuns. Besouro, quando chega no terreiro, senta-se no chão em posição de lótus. Besouro, quando vem trabalhar, não gosta muito de conversar e gira nos seus protegidos calado.[carece de fontes]
 Origem: Wikipédia, a enciclopédia




BESOURO MANGANGÁ
A história dos grandes capoeiras, vive até nossos dias, na imaginação popular e cantigas que narram suas façanhas. Em Salvador por volta de 1920 o chefe de polícia Pedrito de Azevedo Gordilho, perseguiu não só as rodas de capoeira, mas também o samba e o candomblé. Nessa mesma época surge em Santo Amaro, Besouro Mangangá ou Besouro Cordão de Ouro, que foi um dos maiores capoeirista da Bahia um dos mais admirados e citado em canções nas rodas de capoeira. Nascido em 1897, era filho de João Grosso e Maria Haifa, chamava-se MANOEL HENRIQUE. Aprendeu Capoeira com o escravo chamado Tio Alípio. Ganhou o apelido de Besouro (inseto de picada venenosa) devido a crença popular que dizia que quando ele arrumava alguma enrascada e o número de inimigos era grande alem do que ele poderia suportar, não sendo possível vence-los ele se transformava em besouro e saia voando. Sua escola de Capoeira ficava em Santo Amaro, onde fez discípulos como Cobrinha Verde que também era seu primo. Era exímio capoeira e faquista perigoso. Tinha o "corpo fechado" e não gostava de polícia. Em 1924, empregou-se de vaqueiro na fazenda de um senhor conhecido pelo nome de Dr. Zeca. Este fazendeiro tinha um filho de nome Memeu que era muito genioso. Ele teve uma discussão com Besouro, seu pai temendo por sua vida, mandou Besouro se empregar em uma usina onde tinha um amigo administrador. Mandou então uma carta para ele, pelo próprio Besouro que não sabia ler. Esta carta pedia que dessem fim nele por lá mesmo. O administrador lendo a carta disse a Besouro, que esperasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite em um prostíbulo e no dia seguinte foi buscar resposta. Quando chegou foi cercado por uns 40 homens os quais lhe atiraram, as balas nada lhe fizeram, mas um homem o feriu pelas costas com uma faca de tucum (madeira com resistência de ferro, alguns diziam que esta tinha poderes mágicos). Morreu aos 27 anos de idade. Eis uma de suas façanhas narrada por seu ex-aluno Cobrinha Verde: "Certa vez estava sem trabalho e foi procurar um ganha pão. Foi a uma usina e deram-lhe trabalho.



Quando foi no dia do pagamento ele sabia que o patrão tinha o hábito de chamar o trabalhador uma vez, e na segunda dizia: "quebrou para São Caetano", que queria dizer: não recebe mais. E se o fulano reclamasse era chicoteado e ficava preso no tronco de madeira com o pescoço, os braços e as pernas no tronco por um dia e depois era mandado embora. Na hora do pagamento disse a Besouro "quebrou para São Caetano". Todos receberam o dinheiro menos Besouro. Besouro então invadiu a casa do homem e gritou: - "pague o dinheiro de Besouro Cordão de Ouro! Paga ou não paga!". O patrão rapidamente mandou que pagassem o dinheiro daquele homem. Besouro tomou o dinheiro e foi embora. Besouro também não gostava de polícia. Muitas vezes encontrava companheiros que iam presos e os tomava da mão de qualquer soldado, batia em todos, tomava-lhes as armas, levava-as até o quartel e dizia: "tá aqui, seus morcegos" e jogava as armas. Um dia ele estava em frente ao Largo da Cruz e passou um soldado. Besouro o forçou a tomar uma cachaça. O soldado saiu dali para o quartel e fez queixa ao tenente que mandou 10 soldados para prender Besouro, vivo ou morto. Chegando lá deram ordem de prisão. Besouro saiu do botequim de costas, foi para a cruz, encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava. Os soldados começaram a atirar. Besouro fingiu está baleado e caiu os soldados acharam que ele estava morto e se foram. Besouro então se levantou e saiu cantando.


A palavra "capoeirista" assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manoel Henrique que, desde cedo, aprendeu com o Mestre Alípio os segredos da capoeira. Na rua Trapixe de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado como Besouro Magangá por causa da flexibilidade e facilidade de desaparecer, quando a hora era para tal. Negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em lugar fixo nem teve profissão definida.

Quando os adversários eram muitos e a vantagem da briga pendia para o outro lado, Besouro sempre dava um jeito, desaparecia. A crença de que tinha poderes sobrenaturais veio logo. Confirmando o motivo de ter ele sempre que carregar patuá. De trem, a cavalo ou a pé embrenhando-se no matagal, Besouro dependendo da circunstância, saía de Santo Amaro para Maracangalha ou vice-versa, trabalhando em usinas ou fazendas.

Certa feita, quem conta é seu primo e aluno Cobrinha Verde. Sem trabalho, foi à Usina Colônia (hoje Santa Eliza), em Santo Amaro, conseguindo colocação. Uma semana depois do dia do pagamento, o patrão, como fazia com os outros empregados, disse-lhe que o salário havia "quebrado" para São Caetano. Isto é, não pagaria coisa alguma. Quem se atrevesse a contestar era surrado e amarrado a um tronco durante 24 horas. Besouro, entretanto, esperou que o empregador lhe chamasse e quando o homem repetiu a célebre frase, foi segurado pelo cavanhaque e forçado a pagar, depois de uma tremenda surra.

Misto de vingador e desordeiro, Besouro não gostava de policiais e sempre se envolvia em complicações com os milicianos, não raramente tomando-lhes as armas. Conduzia-os então até o quartel. Certa vez obrigou um soldado a beber grande quantidade de aguardente. O fato registrou-se no Largo da Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O militar dirigiu-se posteriormente à caserna, comunicando o ocorrido ao comandante do destacamento, Cabo José Costa, que imediatamente designou 10 praças para trazer Besouro, vivo ou morto.



Pressentindo a aproximação dos policiais, Besouro recuou do bar e encostando-se na cruz existente no largo, abriu os braços e disse que não se entregava. Ouviu-se violenta fuzilaria, ficando ele estendido no chão. O Cabo José chegou-se e afirmou que o capoeirista estava morto. Besouro então ergueu-se e mandou que o comandante levantasse as mãos. Ordenou que todos os soldados se fossem, e cantou os seguintes versos:

Lá atiraram na cruz
Eu de mim não sei
Se acaso fui eu mesmo
Ela mesmo me perdoe
Besouro caiu no chão fez que estava deitado
A polícia
Ele atirou no soldado
Vão brigar com os caranguejos
Que é bicho que não tem sangue
Polícia se briga
Vamos para dentro do mangue

As brigas eram sucessivas e muitas vezes Besouro tomou partido dos fracos contra proprietários de fazendas, engenhos e policiais. Empregando-se na fazenda do Dr. Zeca, pai de um rapaz conhecido por Hemeu, Besouro foi com eles às vias de fato, sendo então marcado para morrer.

Homem influente, Dr. Zeca mandou pelo próprio Besouro, que não sabia ler nem escrever, uma carta para um seu amigo, administrador da Usina Maracangalha, para que liquidasse o portador. O destinatário, com rara frieza mandou que Besouro esperasse a resposta no dia seguinte. Pela manhã, logo cedo, Besouro foi buscar a resposta, sendo então cercado por cerca de 40 soldados. Estes fizeram fogo, sem contudo atingirem o alvo. Um homem, entretanto, conhecido por Eusébio de Quibaça, quando notou que Besouro tentava afastar-se gingando o corpo, chegou-se sorrateiramente e desferiu-lhe violento golpe com uma faca ticum (há controvérsias sobre as facas ticum ou tucum. Alguns dizem que tais facas são feitas de madeira venenosa, próprias para "furar corpo fechado". Outros, que as facas ticum são na verdade grandes facas comuns, usadas para cortar as fibras da palmeira conhecida como ticum ou tucum).

Manoel Henrique, o Besouro Magangá, morreu jovem, aos 27 anos em 1924. Restaram ainda dois de seus alunos: Rafael Alves França (Mestre Cobrinha Verde) e Siri de Mangue. Hoje Besouro é símbolo da capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade para com os mais fracos.




Besouro, um nome na história da capoeira da Bahia nas telas!
“__Você viu pra onde foi aquele negro?”,
“__Vi, sim senhor. Ele virou besouro e saiu voando”.
Foi assim que o apelido de Manuel Henrique Pereira surgiu e começou a correr por toda a Bahia. Nascido no antigo quilombo de Urupy, distrito de Oliveira dos Campinhos, município de Santo Amaro, em 1895, Besouro foi um dos capoeiristas mais famosos de sua época e extremamente hábil com as facas. Reza a história que quando ele nasceu, também estavam lá (e do seu lado nunca saíram), os protetores da capoeira: os orixás Ogum e Oxossi.

Depois do sucesso do musical Besouro Cordão de Ouro inspirado na vida do capoeirista com texto do compositor Paulo César Pinheiro, chegou a vez do valente que desafiava as autoridades se exibir nas telas do cinema. O publicitário brasileiro mais premiado no Festival de Publicidade de Cannes, João Daniel Tikhomiroff escolheu a história do capoeirista para estrear seu primeiro longa metragem. O filme Besouro foi rodado em Igatu, na Chapada Diamantina. Besouro será interpretado pelo ator Ailton Carmo, o Coquinho. O fotógrafo Christian Cravo (filho do renomado Mário Cravo) está preparando um livro com a fotodocumentação artística da aventura da produção do filme na Chapada Diamantina e no Recôncavo Baiano.




NA HISTÓRIA -
Aos 13 anos, Besouro ganhou o mundo: saiu de casa para trabalhar e começou a escrever seu nome na história através de suas aventuras. Foi vaqueiro e amansador de burro bravo pelas vilas do Recôncavo Baiano. Aprendeu com um tio africano e ex-escravo os mistérios da capoeira, do jogo, das facas e das boas orações. Já adulto foi também saveirista e soldado do Exército Brasileiro. O capoeirista era tão respeitado que costumava sair às ruas avisando aos comerciantes que fechassem as portas, pois tinha acabado de decretar feriado. Também era comum vê-lo presenteando um de seus compadres com penas de pavão, arrancadas dos chapéus dos valentões de Santo Amaro.

Nas rodas de capoeira do Trapiche de Baixo (até hoje o bairro mais pobre de Santo Amaro) e nas festas populares, o jovem Besouro começou a se destacar. O seu forte era a agilidade, a rapidez de raciocínio, a calma e a surpresa, além de ter o corpo fechado com fortes mandingas e rezas. Paulo Barroquinha, Boca de Siri, Noca de Jacó, Doze Homens e Canário Pardo, todos moradores do local, foram os seus companheiros nas memoráveis rodas de Capoeira que hipnotizavam quem quer que passasse. Rodas de capoeira como aquelas só são vistas de tempos em tempos e, talvez, mesmo assim, nunca se vejam outras iguais.


 
UMA LENDA -
Besouro fez história e virou lenda. Um homem que é tido por alguns como arruaceiro, criminoso ousado, fora-da-lei e, ao mesmo tempo, é considerado por outros um justiceiro, protetor dos oprimidos. Apesar de violento, não se tem notícia de que ele tenha matado alguém. Os casos de suas façanhas são contados por pessoas antigas, algumas conviveram com ele, outras que ouviram falar de sua rebeldia. Ele vivia num mundo em que para sobreviver era preciso ter malícia dentro e fora da roda de capoeira.


O difícil é descobrir como esse homem negro e pobre nascido no fim do século XIX, numa época em que ser praticante de atividades ligadas à herança africana era considerada um crime, se tornou a figura mais respeitada no mundo da capoeira. Sua fama extrapolou os limites do Recôncavo, chegou à Salvador, ao restante do país e alcançou os quatro cantos do mundo. Capoeirista valentão num tempo em que não havia a divisão entre os estilos Angola e Regional, muito menos escolas e academias de ensino, “Besouro Cordão de Ouro”, como era também conhecido, inspirou um dos capítulos do livro Mar Morto, de Jorge Amado.



JUSTIÇA -
Para alguns, Besouro desejava apenas justiça. Ele era o elemento negro injustiçado pela cultura dominante que necessitava existir pela formulação de um novo código e, ao mesmo tempo, de um novo conceito de justiça. Foi em meio a essa cultura dominante, de nobres e senhores de escravos, que o hábil capoeirista conseguiu se sobressair. Besouro morreu muito jovem, assassinado antes de completar 30 anos. O homem mais valente do Recôncavo baiano foi golpeado traiçoeiramente com uma faca de ticum (preparada especialmente para abrir seu corpo fechado pela mandinga) por um de seus colegas. Até hoje, Besouro é símbolo da capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.

“Quem é você que acaba de chegar

Eu sou Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Eu vim lá de Santo Amaro
Vim aqui só pra jogar

Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Eu sou Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Ando com corpo fechado
Carrego meu patuá

Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Me chamam Besouro Preto
Besouro de Mangangá
Bala de rifle não me pega
Que dirá faca de matar

Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar

Aqui em Maracangalha
Você não vai escapar
Contra faca de tucum
Ninguém pode se salvar

Quem é você que acaba de chegar
Quem é você que acaba de chegar”.

http://blogdogutemberg.blogspot.com.br/2009/05/besouro-um-nome-na-historia-da-capoeira.html




Duas opiniões que valem a pena ler!
Para os curiosos, posso adiantar que Besouro, no conjunto, é um filme bom e vale a pena ser visto. Vi a pré-estréia na última quarta-feira, dia 21/10. A estréia será dia 30/10, próxima sexta-feira. Em uma hora e meia, ele traz ao grande público a história de um personagem, de uma luta, a mitologia e um cenário tipicamente brasileiros. Isso, por si só, já é um mérito.

Para quem não conhece a história farei um brevíssimo resumo. Besouro foi um capoeirista que era um misto de vingador e desordeiro. Lutando pelos interesses dos negros, e seus, ele tocava o terror com os donos do poder econômico e político. Depois da libertação dos escravos, algumas vezes os coronéis se recusavam a pagar pelos trabalhos nas usinas de cana-de-açúcar. Certa feita, reza a lenda, ele segurou o coronel pela camisa e o obrigou a efetuar-lhe o pagamento. Era avesso a policiais, que não conseguiam pegá-lo, e lutava capoeira com a proteção dos orixás. Tinha o corpo fechado. Essas, e várias outras histórias, são contadas nas rodas de capoeira através dos cânticos.

Para mim, o primeiro problema do filme acontece devido à mistura de cenários. A história, real, de Besouro se passa em Santo Amaro da Purificação e o filme foi, em grande parte, filmado na Chapada Diamantina, região completamente diferente e densamente povoada por exploradores de ouro e diamante, e não escravos. Em busca de uma fotografia mais atraente, a locação real foi substituída. O filme é ruim por isso? Não. Continua sendo bom.

O diretor do filme optou por preparar um não-ator, que joga capoeira muito bem, para representar o Besouro. O menino é um excelente capoeirista, mas está longe de ser ator. Sua voz, ao que me pareceu, foi dublada, e algumas cenas ficaram sem a expressão corporal necessária para imprimir a emoção vivida pela lenda da capoeira. Em compensação, a expressão facial dele favoreceu às cenas mudas.

Estudamos, desde a escola, a mitologia grega, mas desconhecemos totalmente a história dos Deuses africanos que foram trazidos para o Brasil, os orixás. O problema, para muitos, é que tudo que é tipicamente afro-brasileiro (nossa origem) não presta e, o pior, é endemonizado. Enfim... Não estou aqui para falar de religião, mas um dos méritos do filme, para mim, seria esse. Digo seria porque não acredito que a obra conseguiu passar a importância do candomblé para os ex-escravos, que inclusive agradecem aos orixás pela sua libertação. Mas, não há como negar, as cenas em que Besouro recebe a proteção dos orixás são lindas. A fotografia é perfeita, a luz foi usada a favor das filmagens e o cenário (embora não represente o ambiente real) foi muito bem montado.


O que me incomodou muito em Besouro foi o roteiro sem amarração e o texto do filme. Esperei, com ansiedade, uma luta ápice e não achei. Busquei entender porque aquele capoeirista foi o escolhido e, no filme, não tive resposta. Tentou-se falar de muita coisa ao mesmo tempo – capoeira, candomblé e escravidão – e o produto final não foi denso o suficiente para validar a obra. Fora o texto dos atores que não representam o linguajar dos recém libertos escravos. Teve até escravo com sotaque carioca! Para equilibrar, o capataz, Noca, tem uma atuação exuberante e suga toda a atenção quando aparece. Você acredita no ódio que ele sente por Besouro, mas não coloca fé no sentimento dos escravos.

Depois disso vocês devem achar que eu não gostei do filme. Não creiam. Besouro é um longa bom e, creio, vai cair no gosto popular. Quem sabe em breve não poderemos conhecer outra lenda da história brasileira através da tela dos cinemas? Só espero que orçamento do filme seja menos gasto em efeitos visuais – a verba foi de leis de incentivo fiscal - e a atenção esteja mais voltada para o conteúdo da obra.
Esta é a minha opinião, que também não é unânime, mas é minha.
Luciana Guimarães

http://pensologobrigo.blogspot.com.br/2009/10/o-besouro-manganga.html




Besouro sem asas:
Filme tem diálogos fracos e história confusa

Ivan Dias Marques
Redação CORREIO
Fotos: Divulgação e Guto Costa

A decepção é proporcional à expectativa. Essa é a tônica de Besouro, longa-metragem de João Daniel Tikhomiroff. A história do capoeirista baiano Manoel Henrique Pereira (1897-1924), que virou lenda nas rodas e nos cânticos da arte-luta pela agilidade e capacidade de fugir dos inimigos (nos causos populares, Besouro Mangangá voava), foi transformada em um filme com orçamento de R$9 milhões, efeitos especiais hollywoodianos e equipe técnica de ponta.
Besouro era o preferido do público para ser o filme brasileiro indicado ao Oscar (quem acabou escolhido foi Salve geral, de Sérgio Rezende) e seu trailer teve milhares de acessos no YouTube. Infelizmente, por mais que se tenha boa vontade, ele peca em vários aspectos. O principal deles é aquele que todo filme que tem pretensão de ser bom precisa: um roteiro competente.



Apesar de ter bons efeitos, ‘Besouro’ peca, sobretudo, pelo roteiro fraco.
Os diálogos são fracos, falta consistência nos personagens e a construção da história é confusa. Os efeitos especiais (bacanas na maioria das vezes) e a fotografia de Enrique Chediak se misturam a uma direção de arte falha e a má utilização dos recursos visuais comandados pelo chinês Huen Chiu Ku (o mesmo de Kill Bill, O tigre e o dragão e Matrix).
A confusão de sotaques baiano, pernambucano e carioca (sim, carioca!) e a feira popular inverossímil, por exemplo, são pontos fracos. O ator principal, o capoeirista baiano Ailton Carmo (que não tinha experiência em dramaturgia), temdificuldade nos diálogos, apesar de todo seu esforço. Nas cenas de luta e quando contracena com os orixás - algumas das melhores sequências -, ele se sai bem.



Gilberto Gil, na foto com Rica Amabis, Pupilo (Nação Zumbi) e o diretor João Daniel Tikhomiroff, fez a música-tema do filme

Mas, mesmo com defeitos, Besouro não é uma lástima. Temboas passagens, como a que Besouro e Dinorá (Jéssica Barbosa) misturam amor e capoeira, a luta entre o personagem principal e Quero- Quero (Anderson Grillo) e qualquer uma que envolva Noca de Antônia (o excelente Irandhir Santos). A trilha sonora, com músicas de Gilberto Gil e Nação Zumbi, é marcante.
Apesar de ser um diretor estreante em longa-metragem, Tikhomiroff (carioca radicado em São Paulo) é premiadíssimo na publicidade e, por isso, esperava-se um cuidado técnico maior com uma história que envolve uma lenda tão rica e que é motivo de orgulho baiano como o Besouro Mangangá.

http://pensologobrigo.blogspot.com.br/2009/10/o-besouro-manganga.html



O Macaco arrebenta!!!
 Se tivesse um escritor que escrevesse estórias sobre este macaco ele seria tão famoso quanto Besouro!!!
Estou colocando a minha abaixo do vídeo.



O MACACO BESOURO 
 Leiteiro

Saí ligeiramente alegre do elevador do Edificio Central para visitar meu amigo "Guará"! 
Já no corredor  levo um susto danado. No fim do mesmo está uma figura monstruosa, um chimpanzé da minha estatura, com uma caixa torácica que media 3 da minha. Se nós temos 2 pulmões, aquele peste tinha 4 no mínimo.

 

Estranho mesmo era êle estar de kimono com faixa preta e tudo. Eu que fui fã da "Chita" do Tarzan e frequentador assíduo dos circos, sabia que os chimpanzés são dóceis, com reações quase humanas. Fui em direção ao mesmo com certo receio (devido ao tamanho da besta) enquanto o "micapeta" guinchava assustadoramente e sorria de orelha a orelha literalmente.
 Embora o corredor fosse bem amplo deslizei rente à parede, tentando evitar um contato maior com o peste. Notei que seus olhos estavam "dando a maior bandeira", indicando que êle dera um "tapinha" num cigarro sem marca, a erva maldita.
Pressentindo um possível medo, aquele tapete ambulante partiu para cima de mim com os braços em forma de cruz credo. Se o capeta tinha uns 1,70m de altura, cada braço do símio tinha o mesmo tamanho. Vedada a minha passagem pelo corredor, estava explícita a provocação:
êle queria briga, então briga êle vai ter!



Provavelmente ensinado pelo instrutor a detestar capoeiristas, tinha me reconhecido pelo berimbau do tipo mestre Waldemar! Desarmei o "beriba" e esgrimei o estranho florete para cima da besta e "touché": Acertei duas estocadas magníficas, enlouquecendo a fera! Com gestos me mandou a mensagem que quem vive na guerra conhece o significado:
braço esquerdo ai, mamãe, braço direito, ui, papai! 
Perna esquerda, hospital,  perna direita, cemitério!


As estocadas tinham aberto a caixa de Pandora e possivelmente nem Mestre Bimba me salvaria.  Ginguei bacana e mandei um "mata cobra", o golpe mais perigoso da Capoeira, a "meia lua" inteira. O problema é que a Capoeira é o Esperanto das Artes Marciais, pegando um pouquinho de cada Arte e esse golpe o macaco já conhecia! Mandou-me uma "contra-meia lua" que levou meu bigode e quase leva meu nariz junto.
Meti-lhe um "corta capim" e êle fez um rolamento com seus 60 quilos em cima de minha rótula, que ficou na mesma hora sem rótulo" Abri meu baú de golpes e peguei o "pulo do gato"... um golpe que êle não conhecia, o "vôo do morcego". Me dei bem: meus pés bateram em seu peito fazendo o som do tambor e deslocando-o 1 metro para trás, enquanto eu me estatelava de costa. Êle revidou com um mortal relâmpago, aterrizando com as 4 patas (digo, mãos e patas) no meu estômago.

 

Vi São Pedro abrir a gaveta e ouvi as trombetas dos arcanjos enquanto êle lia meu nome, mas me recusei a ir! Dei-lhe um galopante e meu reflexo de "capoeira" me salvou. Parei a mão a 1 centimetro daquela boca de orca e ouvi o cléckt das 48 "navalhas de marfim" se entrechocando, aonde deveriam estar meus dedos ou minha mão. Fiz um rolamento e tirei aquele tapete de pulgas de cima de mim. Botei "10 no coelho", 20 no veado", passei sebo nas canelas e disparei escada abaixo, só parando no 1º Supermercado que encontrei.

 

Comprei uma dúzia de bananas da terra (aquelas que pesam 1 quilo cada uma) e voltei a 120 km por hora, chegando no corredor com uma "gravata vermelha" de quase um palmo. Meti a mão no saco, retirei o cacho e virei uma "metralhabananadoura" mandando grananadas pra cima do dito-cujo. Era eu jogando e êle pegando! Pegou com uma mão, com a outra, com um pé, com o outro, com o rabo e finalmente com a boca! Sobrou meia dúzia de bananas, que joguei com força total no peito dele. Êle agasalhou com os braços, pernas, rabo, virando quase um tatu-bola. Aproveitei e passei pelo capeta, satanás, demônio, abri a porta da sala do "Guará" e gritei:
"Nunca mais eu venho aqui!"
FUI !