segunda-feira, 4 de julho de 2011

4 Mestres, 4 histórias e Jorge um Brasileiro!


Mestre Poeira
Conheci Mestre Poeira nas rodas da Feira de São Cristovão e fiquei fã de seu jogo embora o tenha visto pouquíssimas vezes! Verdadeiramente oque eu não gostava era de suas Chamadas cuja postura era Kung Fu demais para meu gosto e ficava mais impressionante pelas grandes e cultivadas unhas! Mesmo assim ele me permitiu participar de seu trabalho com as crianças de Padre Miguel e que trabalho!
Não tinha aluno mais ou menos com destaque para Muca e Pedrinho e um aluno mais velho (uns 15/17) muito bom!
Vi um treinamento num ginásio para um dia de apresentação com um grau de negritude excepcional!
Que pena que Mestre Poeira não teve um bom apoio no auge de sua dedicação á Nossa Arte Capoeira!
Aí tem que se mandar da sua Querida terra para o exterior sofrendo com o Banzo moderno por sorte bem mais suave!
Axé Mestre Poeira, sonhar é preciso!!!

Meu querido professor Lua Rasta cantava com muita propriedade esta música:

Mandingueiro traga a sua guiada
Mandingueiro traga a sua guiada
minha guiada ficou em Belém
ficou lá minha família
ficou lá todos os meus "trem"
sem a minha família oi iáiá
Eu não sou ninguém!

(adaptação de Leiteiro)



Mestre Dentinho
Era uma rodinha de poucos la por volta de 1978 na calçada do Shoping do final da Rua Siqueira Campos. Possivelmente o Lua Rasta ja estivesse na peça teatral Feira Livre no Teatro Opinião e fazia aquecimento musical conosco, (eu e Bebeto Monsueto) antes de atuar.
Derepente surge do nada no semibreu espantosa figura!
Negro retinto com uma imensa argola na orelha provávelmente de ourina, (ouro com platina) côco raspado na máquina zero-zero, brilhando pela vaselina e olhos parecendo duas azeitonas pretas!

Quando viu o Lua abriu um sorriso de garoto propaganda de fábrica de dentaduras.
Nem os crocodilos do Nilo tinham tantos dentes!
Mesmo com pouca gente o Lua não quis perder a oportunidade, abriu a rodinha e como o João Paraiba ( que depois do Lua era o melhor do Grupo) não estava, acocorei ao pé do Beriba.
Não era fácil encarar aquele provavel fugitivo de um navio pirata, ainda mais porque o Espartaco reBimBara a ordem do Mestríssimo:
Acabar com a palhaçada na Cidade Maravilhosa!

Diz o velho deitado:
Em Rio que tem piranha jacaré nada de costa!
E as rodas no Rio estavam uma piranhagem doida. Desci tranquilo, ja era macaco velho de rodas de rua e depois tenho por norma zerar a cabeça para sentir melhor o clima!
Foi oque me salvou:
Saí no aú como manda o figurino e ele girou da cocorinha como se fosse fazer uma meia lua de compasso e meteu uma chapa giratória arrasadora na minha bôca!
Senti o perigo e andei com as mãos para trás enquanto recebia o impacto da sola arenosa em meus lábios! Provei o gosto salgado de meu sangue, enquanto terminava o aú e encarava aqueles olhos brilhantes, aquela bôca de piranha!
Tempos depois uma amiga me obrigou a ver um show do cantor Fagner num ginásio de Olaria. Gostava de 2/3 músicas do cantor mas não era seu fã!
Fui e ele me surpreendeu ao cantar essa música:

Oh my love
Fagner

Oh! Meu amor
Pela primeira vez na vida
Meus olhos estão abertos
Oh! Meu amor
Pela primeira vez na vida
Meus olhos vêem

Eu vejo o vento, eu vejo a árvore
Tudo está tão claro em meu viver
Eu vejo a nuvem, eu vejo o céu
Tudo está tão claro em nosso mundo

Saí de lá seu fâ, mas antes de entrar no ginásio passamos por um dos seguranças que por coincidência era o Mestre Dentinho!
Apesar da penunbra estava claro:
Ele era bem baixo!!!

Letra e video
http://www.blogger.com/post-edit.g?blogID=8325536327261148930&postID=1433522199246216722&from=pencil



Mestre Touro
Era um evento importante no 2º andar do Clube Guanabara aonde o Camisa dava aulas. Possivelmente seu aniversário, cujos participantes mais de 80% eram alunos e fãns!
De fora (leia-se Zona Norte) duas zebras:
Mestre Touro e Mestre Cigano!
De Mestre Touro tinha ouvido falar muito mas não o conhecia, ja Mestre Cigano....
Começam a roda e Camisa no auge da técnica e forma física da Show, faz um relógio de 2 voltas, mostra toda sua técnica e vitalidade.
Mestre Cigano sabe aonde está pisando, mas quem está na chuva é para se molhar, então começa gingando com a ginga da Zona Norte e leva uma senhora vaia, resolve fazer uma armada angoleira e quase que o segundo andar do Clube desmorona, tamanha a algazarra!
Tira o time enquanto está vivo e entra Mestre Touro:
Vou me arriscar mas confesso que andei muito nas rodas, antes e depois deste evento e confesso que nunca tinha ouvido falar de Mestre Touro na Zona Sul Carioca!
Provavelmente era aquele seu primeiro dia e ele não deixou a desejar:
Na 1ª oportunidade que teve no jogo deu um relógio de mais de 5 voltas e logo depois emendou com um pião de cabeça (existe outro pião?) de umas 10 voltas!
Quase que derrubam o 2º andar novamente e creio que a gritaria foi ouvida até na Central Leopoldina!
Ninguém tinha visto isto antes na Zona Sul e nem viu depois por muito anos, pois o Break ainda estava chegando no Brazil!
Camisa ficou uma arara e quem cruzou na frente dele depois disso levou o farelo!
Tenho dito
Leiteiro

Mestre Muca e Pedrinho
Se arrependimento matasse hoje eu estaria mortinho da silva!
Depois de ver Muca e Pedrinho várias vezes na Academia de Mestre Poeira em Padre Miguel e na Quinta da Boa Vista resolvi convidá-los para uma rodinha no meu morro e no final teria um almoço!
ConVenci minha amigona a fazer o almoço em que ela entrava com tudo e eu com as 3 bôcas para comer!
Sem pensar ela topou na hora mas quando eu cheguei com as crianças (Muca tinha uns 13 anos e Pedrinho uns 6/8 anos) ela não estava em casa!
Esperei/esperamos um bom tempo que nos pareceu uma eternidade e nada da dita cuja dar as caras!
Cariocas, (que ja nasce esperto por natureza) sacaram a furada em que eu os tinha colocado, mas fizeram o meu jogo!
E que jogo:
Não sei se por eu ser fã deles, mas jogaram uns 20 minutos direto sem repetir golpes!
Foi com os alunos de Mestre Poeira que eu vi um jogo de navalha dentro do Tradicional, sem que voçe visse quando ele tirava a navalha do bolso e encaixava no pé, tamanha a maestria do mesmo!
Salve Mestre Muca que nosso Deus o tenha!
Axé!

Fonte das fotos:
http://capoeirar.blogspot.com/



Jorge um Brasileiro!

             
 Capoeirista não é aquele que sabe movimentar o corpo, e sim aquele que se deixa movimentar pela alma
Mestre Pastinha
Foto: Aluandê Capoeira Angola
Roda na feira do Rio Antigo na Lapa - Rio de Janeiro

Jorge um Brasileiro?
Quando meu professor Lua Rasta viajou fiquei sem pai e logo depois Bebeto Monsueto meu amigo, enlouquecido de amor se mandou para a Argentina atrás de sua princesa, fiquei sem pai nem mãe!
Aí o Posto 9 em Ipanema ja não era mais o mesmo, ficou sem sal. Embora a contra gosto tive que voltar a frequentar a praia da Rua Siqueira Campos em Copacabana no Rio de Janeiro, oque desagradou meu mano, envolvido que era com os amigos do local.

Meu estilo Hippye demais o incomodava. Mesmo assim continuei frequentando-a até que conheci Jorge. Ele sempre estivera ali, eu via mas não enxergava. Oque me chamou atenção para sua pessoa, foi seus desenhos de super heróis magníficos.
O tempo que fiquei ao seu lado, (uns 2 meses) Jorge foi sempre o mesmo. Negro, negríssimo, aparentava entre 15/18 anos, sempre sem camisa e com o mesmo short, tinha um sorriso cativante que irradiava felicidade embora tenha sorrido pouquissimas vezes.

Era paraplégico e sua cadeira de rodas só tinha uma lona como assento, sem espuma, nenhum conforto. Nunca me reclamou disso, depois de um tempo passou a temer os pivetes, pois escondiam maconha na sua cadeira, e ele magro, esquelético, não tinha como impedir. Estranhamente, dormia e morava na entrada principal de um edificio a beira mar, Av Atlãntica, que por sorte do seu negro destino, não era usada pelos moradores.

Pensei em levar seus lindos desenhos para um radialista no intuito de lhe conseguir um abrigo, protegendo-o da terrível maresia das tardes/noites dos dias chuvosos. Pensar é uma coisa, fazer é que são elas. Mas ele tinha um sonho, sonho besta por sinal, fácil de concretizar, mas o medo dele era maior:
Queria tomar um banho de mar!
Embora não cheirasse mal, desconfiava que banho só de chuva. Me propuz a realiza-lo, mas ele continuava reticente:
 

 Sem mexer as pernas e terrívelmente mal alimentado, (nunca o vi comer) não tinha braços para nadar. Eu descia para a praia logo depois do almoço, 13:30/14:00, batia um papo com ele antes de entrar na areia.
Nesse dia estava 40 graus á sombra e eu doido para dar um mergulho. Convidei e ele topou. Levei a cadeira até o calçadão

Peguei-o no colo, (pesava uns 30 kilos) e corri os 100 metros até a beira dágua. Mesmo lá a areia estava quente, arriei-o e deve ter se queimado um pouco, cavei desesperadamente uma banheira na areia aonde a onda chegava com um palmo ou 2 de altura e corri para busca-lo.
Que maravilha vê-lo e se esbaldando naquela espuma aquosa. O problema problemático é que ele tomando banho de espuma, tomava também de areia e se o mar tem sal, deve estar na espuma. Depois de umas 3 horas convenci-o a sair.

No cabelo estilo black dava para ver centenas de grãos de areia, o pior foi o sal que transformou meu amigo numa zebra. Se ele não tomasse banho de agua doce ia ser comido vivo pela salmoura.
Nesta altura do campeonato Bebeto voltou e eu voltei com ele ao Posto 9 esquecendo por completo meu desvalido amigo. Mas a lição de vida, de esperança, de felicidade ante um futuro tão inóspito, incerto, perigoso por ter que enfrentar os pivetes, ficou, para mim e poucos que puderam conhecer este Herói Brasileiro, tão visto mas não enxergado!

Brasil mostra a sua cara!


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